sábado, 10 de outubro de 2009

Radar

Quando estou sensível, parece que ligo um radar que capta detalhes que passariam despercebidos em outras ocasiões.
Hoje por exemplo, fui fazer uma cesariana, estacionei o carro em frente ao abrigo de idosos mantido pela Real Sociedade Espanhola de Beneficiência.
Ao descer do carro observei três senhoras sentadas na varanda do abrigo, (uma delas na cadeira de rodas), mirando o horizonte com os olhares perdidos na imensidão do mar ( a vista da varanda é muito bela, a Baía de Todos os Santos ). Ao lado delas uma auxiliar de enfermagem com cara de entediada, talvez por estar trabalhando em pleno fim de semana prolongado.
Imediatamente me perguntei aonde estariam os familiares dessas velhas senhoras, não teriam filhos, netos? Como fora a vida delas na juventude? Foram felizes? Aproveitaram enquanto eram providas da capacidade de ir e vir ? Realizaram todos os seus projetos de vida?
Quanto tempo ainda estarão presas a um corpo sem vigor, sem energia?
Como se sentem hoje?
Inevitável projetar meu futuro, será que viverei o bastante para realizar tudo o que pretendo?
E no final da vida será que terei a sensação de ter vivido o bastante?
Me ocorreu que mesmo vivendo oito, nove décadas, sempre fica a sensação de ter sido pouco.
Por outro lado, não gostaria de estar morando num asilo no fim da vida, é muito triste.
Após esse breve momento, segui em direção ao elevedor do hospital que fica em frente a entrada da UTI. Algumas pessoas se aglomeravam aflitas, e uma delas em especial me chamou atenção.
Uma jovem, que estava sendo amparada por duas mulheres, que aparentemente a consolavam. De repente veio o pranto e a mulher quase desfaleceu.
Certamente algum ente querido estava internado na UTI, e não estava bem, ou quem sabe até havia falecido.
Novamente os neurônios ponderaram: porque perdemos a oportunidade de expressarmos nosssos sentimentos, nosso bem querer enquanto aqueles que amamos, gostamos, estão bem de saúde, estão ao nosso lado vivos?
Deixar para amanhã pode nunca acontecer, porque a vida as vezes é mais breve do que imaginamos.
Absorta em meus pensamentos, subi o elevador para ajudar a vir ao mundo mais uma vida, fato que me enche de satisfação!

Um comentário:

meus instantes e momentos disse...

ótimo texto. Realista , consciente.
Gosto daqui.
Tenha um feliz domingo.
Foi bom conhecer teu blog.
Maurizio