terça-feira, 30 de junho de 2009

Relatos do Consultório

Sou médica há 12 anos, e atuo como ginecologista e obstetra.
No dia a dia do consultório ouço relatos de mulheres das mais variadas idades, e sempre fico analisando o perfil emocional de cada uma delas.
Mesmo sem intenção, minhas pacientes me ensinam muito. Tem dias que me sinto chateada, desanimada, achando que meus problemas são os maiores do mundo! Mas quando ouço as histórias dessas mulheres, tomo consciência de quão dura a vida pode ser com algumas pessoas, e da verdadeira dimensão das minhas dificuldades.
Sempre ouço, sem pressa, o que elas têm a dizer, porque muitas vezes não existem doenças físicas e sim emocionais.
Certa feita, entrou no consultório, uma mulher de 33 anos, já aos prantos e foi logo dizendo que eu precisava ajuda-la, que ela estava em depressão, se eu poderia ouvi-la. Respondi que sim, e perguntei se existia alguma motivo que tivesse desencadeado o quadro depressivo.
"Maria" ( nome fictício ), me relatou que ficou viúva 4 anos atrás, quando o marido sofrera um acidente de carro. O mesmo estava voltando de uma noitada com a amante ( Maria nem sabia que o marido tinha uma ), quando bateu o carro. A polícia deu socorro e levou os dois para o pronto - socorro.
Maria foi acordada com um telefonema de madrugada , avisando sobre o acidente. Ao chegar ao pronto socorro, recebeu duas notícias bombásticas: o seu marido não sobrevivera ao acidente e o mesmo estava acompanhado por uma mulher ( que sobreviveu ). Nesse momento Maria descobriu que era traída pelo homem que considerava acima de qualquer suspeita.
Passados três anos, a outra, entrou na justiça alegando relação estável ( havia mais de dois anos, tinha cartão de crédito dependente etc ) e pleiteando participação na pensão deixada pelo falecido.
O detalhe mais dramático era que Maria tinha uma filha, na época com 7 anos, e nunca havia trabalhado porque o marido não permitia, alegando que tinha condições de manter a família e que Maria deveria tomar conta da menina.
A minha paciente não via saída, estava desesperada porque teria que encarar a "bandida" no dia seguinte ao da consulta. Me pediu tranquilizantes e disse que queria morrer!
Ponderei com ela que o marido já tinha sido punido perdendo a vida e que a filha deles não merecia perder a mãe. Não prescrevi tranquilizantes, e assim ela saiu do consultório mais leve por ter desabafado, mas ainda com a sensação de impotência.
Esse foi apenas um exemplo, mas diariamente chegam a mim relatos de traição, maus tratos, desrespeito.
Essas histórias me tornam uma pessoa mais forte, me fazem amadureçer!
A Vida é uma passagem, pode ser curta ou longa. Penso que devemos aproveita-la da melhor forma possível.
Os problemas existirão, temos que transpor vários obstáculos, mas o que importa é se sentir em paz, ter otimismo, esperança, procurar achar o lado positivo.
Chorar, vivenciar o luto, mas não desistir nunca!

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